top of page
  • Instagram

A difícil — e necessária — arte de deixar voar

  • flaviaibri
  • 3 de jul.
  • 2 min de leitura

Nesse inicio de férias vivi aquela cena clássica: filho indo pela primeira vez para o acampamento. A mochila maior que ele, os olhos brilhando de expectativa, o abraço apertado antes de entrar no ônibus. Nos primeiros dias, tudo é novidade e aventura. Mas, em algum momento, surge a ligação:


“Mãe… me busca. Quero voltar para casa.”


Meu impulso imediato? Correr, buscá-lo, protegê-lo da saudade e do desconforto. Mas, no fundo, eu sei que se eu ceder, vou interromper um processo essencial de crescimento. O acampamento é o espaço onde ele aprende a se virar, a se conhecer, a se fortalecer.


Essa dinâmica, curiosamente, me remeteu ao que acontece todos os dias também no mundo corporativo.


Como líderes, muitas vezes investimos tempo, energia e coração no desenvolvimento de um colaborador. Acompanhamos cada conquista, cada evolução. Construímos confiança, entregamos responsabilidades, celebramos vitórias lado a lado. E, de repente, surge a notícia:


“Recebi uma nova oportunidade.”


A primeira reação costuma ser de perda. Surge o medo do impacto no time, a insegurança sobre quem vai assumir aquele espaço, até mesmo uma sensação de “injustiça” por ter investido tanto. É como ouvir aquele pedido de socorro no meio do acampamento.


Mas a verdade é que segurar alguém que está pronto para voar pode ser mais destrutivo do que qualquer perda imediata.


Quando impedimos um talento de seguir seu caminho — seja em outra área da empresa, em uma nova função ou até em outra organização —, corremos o risco de sufocar o potencial daquela pessoa. Mais que isso: minamos a cultura de confiança e desenvolvimento que tanto pregamos.


Um líder maduro entende que reter a qualquer custo não é sinal de força, mas de insegurança. O verdadeiro papel de quem lidera vai além de formar bons profissionais; é formar pessoas confiantes e preparadas para novos voos, mesmo que eles aconteçam longe do seu ninho.


Essa decisão não é fácil. Assim como os pais que resistem ao impulso de buscar o filho no acampamento, o líder também precisa dominar suas próprias emoções. Precisa liderar primeiro a si mesmo: lidar com o ego, com o medo da escassez, com o vazio deixado pela saída.


Deixar partir, na prática, é uma das maiores demonstrações de liderança. É sinalizar que o crescimento do outro está acima do seu próprio conforto. É cultivar uma cultura onde o desenvolvimento individual é celebrado, não punido.

 

Quando um colaborador voa, ele leva com ele um pedaço do que aprendeu com você. Ele se torna um embaixador do seu legado, uma prova viva da qualidade do seu cuidado e liderança. E, mais cedo ou mais tarde, essa generosidade volta em forma de reconhecimento, parcerias ou até retornos inesperados.


A arte de deixar voar exige coragem. Exige humanidade.


No fim das contas, seja em casa ou na empresa, o maior presente que podemos oferecer a quem amamos — ou a quem lideramos — é a liberdade para crescer. Mesmo que doa, mesmo que o coração aperte, é nesse espaço que as grandes transformações acontecem.


A liderança verdadeira não aprisiona. Ela inspira, forma e liberta.

 
 
 

Comments


Contato

Obrigado por enviar!

bottom of page